CARTA ABERTA A FERDINAND PORSCHE
Caro Ferdinand:
O funeral “
da” Porsche está marcado e este é o meu
elogio fúnebre. Não falo dos funerais “
dos” Porsche, porque esses sucedem-se em catadupa. A vida é rápida demais, infelizmente. Calcula-se que as exéquias acontecerão lá para ano de 2050, mas não é certo. É como o Armagedom, ninguém sabe muito bem quando ou como vai acontecer, mas esse dia há-de chegar. O dia em que definitivamente o nome
PORSCHE deixará de ser um nome de uma
FAMÍLIA e passará a ser, de pleno direito, apenas e só, o nome de uma
MARCA de automóveis (a melhor delas todas, por sinal). Dia após dia, lentamente, em agonia, o passado da tua família vai sendo historica e cirurgicamente decapado. Tudo, claro, em nome do sucesso e do êxito da marca. Rejubilemos, portanto, porque o futuro é risonho. O passado já lá vai e incomoda. É um espinho na presente lógica moderna de uma empresa que não conheces. A memória da família em nada contribui para o sucesso das vendas, embora o “
establishment” nos leve, preversamente, a crer que sim. A ironia é suprema, já que ainda recentemente foram gastos
100 milhões de Euros num novo Museu. Parece um paradoxo, mas não é. Até é divertido descrutinar o “novelo cerebral” de quem engendra tal maquinação. O novo Museu, se nada for feito, até pode muito bem vir a ser o próprio “instrumento final da decapitação do bicho”. O matadouro do porco (até já lá tem um). É uma maravilha da arquitectura moderna repleta de objectos politicamente correctos (alguns deles, por acaso, até incorrectos). É o reflexo e o espelho daquilo que é a Porsche nos dias de hoje. Os dias que vão anteceder o Apocalipse final. O novo Museu da Porsche é uma espécie de
Porsche Zentrum Histórico. Quem lá vai, vê automóveis e pouco mais. O que é um ultraje à tua memória. Chamar Museu áquele
Stand gigante é uma pretensão que não mereces. É que a Porsche é muito mais do que apenas Porsches. Não foi à toa que o novo Director do Museu tenha vindo da
Mercedes, uma trincheira inimiga. Até 997 estão lá dentro. Valha-me Deus...cum raio...997 no Museu????
Já li mais de 100 artigos sobre o novo Museu da Porsche. Todos eles a falar em deslumbramento. Em nenhum desses artigos (e olhem que eu procurei bem...) ouvi uma única voz a dizer o que eu vou dizer agora: o Museu sacrificou a figura do seu criador. Matou–te a ti que já estás morto e as tuas criações. É incrível, mas é verdade. Mas o que me revolta mais é todos aplaudirem. O Museu faz um
forward de 1948 para cá (aquela coisa da entrada não conta). Pois em 1948 o destinatário desta carta já estava a definhar para a morte. O próprio Type 356 pouco dele leva. Para glorificar Ferdinand Porsche ter-se-ia que fazer o
flashback até ao final do Século 19. E se isso tivesse sido feito, o Museu iria ser um hino de glória ao maior inventor de todos os tempos.
Tragam os
Lohners (que ainda sobreviveram no Museu antigo), tragam os
Taunus, os
Austro Daimlers, os
Steyr, os
Auto Union. Tragam os
KDF, os canhões, os tanques de guerra e os aviões. Tragam os moinhos de vento e os tractores. Tragam as bombas que lançamos na Segunda Guerra Mundial e que também mataram. Tragam todos esses engenhos geniais da engenharia. Subam aos sótãos e às caves. Abram as arcas cobertas de pó onde os esconderam. E voltem a montar o que desmontaram. Voltem a construir o que destruíram.
Caro Ferdinand: eu gostava de ser recebido na entrada do Museu por uma estátua tua em tamanho real. Gostava de ver no Museu as tuas coisas pessoais. Os teus sobretudos, as tuas calças alargadas por trazeres permanentemente as mãos nos bolsos, não sei a fazer bem o quê. Gostava de ver os teus barcos de recreio ou as tuas invenções mais alucinadas. Gostava de ver as réguas com que mediste e os estiradores onde te debruçaste. Gostava de ver a tua colecção de pins. Até as tuas cuecas se for preciso. É isto que eu esperava de um Museu do Porsche.
Admito que o meu lamento seja irrelevante, o que não me preocupa minimamente. Também não tenho qualquer pretensão em relação a esta vida. Nem tenho, sequer, qualquer projecto (Typ como dirias tu) pessoal para a minha existência.
De todos os sítios da Europa por onde Ferdinand Porsche deixou a sua marca,
Maffersdorf é de longe o mais desconhecido. Toda a gente cospe em
Maffersdorf e aquele pequeno lugar é maravilhoso. Toda a gente lhe cospe...é como quem diz...já que poucos sabem o que lá se passou ou até que ele existiu. No entanto, foi lá que se deu a explosão cósmica da origem da família Porsche. Foi ali que
Ferdinand Porsche nasceu no dia 3 de Setembro de 1875. Maffersdorf ficava na Boémia (pertencendo ao
Império Austro-Húngaro), e era uma Vila a nordeste de
Praga, antiga
Checoslováquia. Como consta da sua certidão de óbito: “
Maffersdorf, Kreis-Reichenberg, Tschechoslowakai”.
Complicado, não é?
É. É mesmo complicado e obriga a que se ligue um “GPS histórico” para se conseguir lá ir.
É que, maioria das pessoas que chega aqui a este ponto, desiste muito facilmente. Primeiro porque não percebem porque é que o Alemão F. Porsche afinal era Checoslovaco.
Checoslovaco???? Alguns ainda dizem: “
não..estás a confundir com a Áustria...ouvi dizer que Ferdinand Porsche era Austríaco!”.
Mas ele não falava alemão? Falava! Então...em que é que ficamos? Pois...não ficamos. Tirar o Porsche à Alemanha é tão bem-vindo como se agora alguém aparecesse a dizer que o Camões tinha nascido no Arzebeijão.
Claro que é preciso esclarecer que Ferdinand Porsche morreu alemão. Contudo, após o desmoronamento do
Império Austro-Húngaro, como ele estava no lado
Checo, ele adquiriu a nacionalidade
Checoslovaca. A nacionalidade
Alemã, só vai aparecer em 1935 e terá por base outro tipo de interesses que para agora não vêm ao caso.
Ok...
Maffersdorf não é um lugar sofisticado. Tem até algum daquele ambiente pouco glamoroso dos lugares de leste. Mas tem a sua dignidade e não merece o desprezo a que é votado. A Porsche faz lembrar aqueles novos ricos da aldeia, que depois passam a ter vergonha do berço pobre. É bom que se faça portanto, a apologia e o fomento da ignorância. Não interessa. Ponto. Parágrafo, para não haver dúvidas. No meio de toda esta confusão, já ninguém quer saber o que quer que seja sobre Maffersdorf. E o problema é que aqueles que, eventualmente ficaram com a curiosidade espicaçada, vão procurar Maffersdorf no mapa e Kaput (ou na versão Portuguesa..
caputa)...nicles. Aquilo desapareceu do mapa. E desapareceu mesmo. O que até vem mesmo a calhar ao orgulho germânico. Ora, para encontrarmos Maffersdorf no mapa, vamos ter que procurar aquilo em que ela hoje se tornou:
Vratislavice nad Nisou, parte integrante da cidade de
Liberec, na
República Checa. E agora, certamente para muitos, uma pequena curiosidade: em checo, Ferdinand Porsche não se diz nem se escreve assim. A forma original é
Ferdinanda Porsche. Interessante, no mínimo.
Foto: 1940. Maffersdorf ainda figurava no mapa:
Foto: quem for ao site da Porsche da República Checa, encontrará algumas referências à FERDINANDA como esta:
Ferdinanda Porsche nasceu na primeira das “
Casas Porsche”, “
Porsche Villa” ou (actualizando agora para o checo) “
Porsche dom”, a casa de seu pai
Anton Porsche, e ficava na
Hauptstrabe 38, perto da farmácia e no caminho da igreja locais. A
Hauptstrabe também morreu como Rua. A toponímia actual, porém, não engana. A Rua onde Ferdinanda Porsche nasceu, chama-se agora
Tanvaldské Ulici. E a casa ainda lá está, como iremos ver e visitar mais à frente.
É pois, assim, que grande parte da História da Porsche está na República Checa. Os primórdios da família, uma lenda que não interessa contar, nem interessa preservar, mas que é muito engraçada e comovente.
Wenzel Porsche foi o primeiro Porsche conhecido. Foi o
bisavô de
Anton Porsche, o
trizavô de
Ferdinand Porsche, o
tetravô de
Ferry Porsche e o
pentavô de
Butzi Porsche. Anton Porsche era um Ferreiro/canalizador de profissão muito reconhecido. Vivia e trabalhava em Maffersdorf. Não era uma pessoa qualquer. Anton Porsche, era fundador e Presidente de algumas Associações de Maffesdorf, tais como a dos Bombeiros, dos veteranos de guerra e dos transportadores. Era um homem respeitado na terra e com algum sucesso. Apostou tudo no seu filho mais velho, também ele de nome
Anton Porsche. Levou-o com ele para trabalhar o ferro, mas o rapaz teve um acidente magoando-se seriamente. Como na altura não existiam cuidados nem assistência médica,
Anton Porsche (filho) morreu. Calhou ao irmão Ferdinand assumir o lugar no negócio do Pai. Apesar de o outro irmão,
Oskar Porsche estar mais talhado para seguir as pisadas do progenitor (como mais tarde se veio a confirmar montando o seu próprio negócio), a ordem de sucessão era uma coisa que, já na altura, era levada muito a sério pelos Porsche. Ferdinand não se fascinou com o trabalho do pai, e sentia-se talhado para outros voos (em tempos contei a história do milagre da electricidade em Maffersdorf protagonizado pelo pequenote Ferdinand). A verdade é que
Anna Ehrlich (Porsche), mãe de Ferdinand suspeitou que o miúdo devia ser diferente dos outros e ajudou-o a levar a cabo as experiências longe do conhecimento e da vista do pai. Quem se lembra da história sabe o que aconteceu: sem qualquer formação e sem ensinamentos, o pequeno Ferdinand Porsche inventou um gerador de electricidade para a sua casa, através de umas baterias. O pai Anton chegou a queimar-se seriamente no ácido das baterias, porque quando descobriu a experiência deu-lhe um violento pontapé, pois julgava que o seu filho andava a perder tempo e a desleixar-se no trabalho. Nem queria, por isso, acreditar, quando um dia, regressando do trabalho viu ao longe uma luz onde deveria haver escuridão (o único edifício com energia em toda Maffersdorf era a fábrica de tapetes). Era a sua própria casa iluminada com uma invenção do filho.
Fotos: Maffersdorf, zona rural industrializada:
Foto: Hauptstrabe 38. A casa onde Ferdinand Porsche nasceu, registada ao longo dos tempos. Na primeira fotografia, tirada em 1888, consegue-se vislumbrar os irmãozinhos“Porsche” todos juntinhos à frente da cerca da propriedade. Uma imagem que podia ter sido retirada de um filme de terror:
Foto: 1882. Anton Porsche com 9 anos (o que viria a morrer), Ferdinand com 7 anos, Anna com 11 anos e Hedwig com 4 anos: os pequenos irmãos Porsche:
Foto: O estaminé de Anton Porsche (reparem na tabuleta no cimo da Porta):
A equipa dos ferreiros de Anton Porsche. Sentado no chão, à direita, o jovem Ferdinand:
Foto: o percursor do negócio do pai, Oskar Porsche. Na foto vemos o logótipo que ele criou mais tarde, bem como o anúncio publicitário num jornal:
Foto: Anton Porsche numa reunião das corporações de bombeiros em Maffersdorf e no quadro de honra (à esquerda).
A FAMÍLIA GINZKEY
Os
Ginzkey eram a famíla mais poderosa de Maffersdorf. Primeiro com
Ignaz e depois com seu filho
Willy, eram amigos dos Porsche e foram eles os responsáveis pelo futuro de Ferdinand. Parece-me seguro dizer que sem os Ginzkey não existiria a Porsche. Porque foi ele que à revelia de Anton Porsche, arranjou forma de proporcionar uma nova carreira para o jovem Ferdinand. Foram os Ginzkey os primeiros seres humanos a se deslumbrarem com o génio natural de Ferdinand Porsche e a certificarem-se que ao rapaz seria concedida uma digna oportunidade na vida.
Os Ginzkey fundaram a maior indústria existente em Maffersdorf, uma portentosa fábrica de tapeçaria. Ficou célebre o feito de, em 1924, terem fabricado o maior tapete do mundo, encomendado pelo mais luxuoso Hotel de
Nova York, o
Waldorf Astoria. Quem lá for, não se esqueça de lá ir perguntar pelo tapete, porque ele ainda lá está. O tapete de Maffersdorf.
Claro que W. Ginzkey ficou fascinado com o jovem Porsche. Na época, apenas a fábrica dos tapetes possuia energia eléctrica. O simples facto de o petiz ter conseguido gerar sozinho electricidade na sua casa, através de um sistema de baterias por ele inventado, o que não deixou quaisquer dúvidas sobre a sua genialidade fora do comum. E Ginzkey não descansou enquanto não convenceu os pais de Ferdinand a deixarem-no partir, primeiro para estudar
Escola Técnica Imperial de Reichenberg (arredores) e depois para ir trabalhar para a firma
Bela Egger, mais tarde conhecida como
Brown and Bovery, onde lhe arranjou uma cunha para um emprego. Porsche muda-se, assim, para Áustria, vai lá trabalhar quatro anos ao mesmo tempo que passa também a estudar na
Escola Superior Técnica de Viena, antes de ser descoberto por
Jacob Lohner (para onde irá trabalhar em 1985). É nesta empresa que Ferdinand se vai apaixonar pela guarda livros,
Aloisia Johanna (Louise) Kaes – a sua futura mulher e mãe dos seus filhos.
Foto: Postal do próprio Ignaz Ginzkey com referência à sua fortuna pessoal e profissional:
Foto: A opolenta mansão dos Ginzkey em Maffersdorf:
Foto: O célebre tapete:
Fotos: O tapete gigante aquando do seu transporte com destino ao suprassumo do luxo, o Hotel Waldorf Astoria, em Park Avenue, Nova York. O momento captado é precisamente o da colocação do tapete enrolado, a sair das instalações em Maffersdorf. Está fantástica a gigantesca carroça que foi concebida especialmente para o efeito:
O REGRESSO DO FILHO PRÓDIGO
Corria o ano de 1902. Numa noite de festa da empresa levada a cabo no teatro Ronacher em Viena, Ferdinand Porsche ganha coragem e pergunta a Aloisia: “
gostavas de conhecer os meus pais? Estava a pensar em levar-te de automóvel até à minha terra natal...”. “
De automóvel? " pergunta ela. Claro que sim!
Ferdinand Porsche ficou entusiasmadíssimo. Só faltava o mais difícil que era pedir o automóvel emprestado a Jacob Lohner, da empresa k
. u. k. Hofwagenfabrik Jacob Lohner & Co., de Viena. O homem não se fez rogado e arrasou com o Porsche. "
Maffersdorf?? Estás louco? Isso fica no fim do mundo e ninguém conhece. É um ninho escondido" (nota: expressão exacta que utilizou). "
Qual é a vantagem de um dos meus automóveis fazer uma viagem tão grande? Ainda se fosse Praga, Salzburgo ou Munique...agora Maffersdorf???".
Ferdinand não desistiu: “
Herr Lohner, posso-lhe garantir que aquela terra é frequentada pelas pessoas mais importantes. O Imperador Franz, o Rei da Inglatera, o Czar Russo e muitas outras casas reais são visitas regulares para adquirirem tapetes. Será óptimo para testar o Lohner Mixtwagen e uma excelente oportunidade para o mostrar". Herr Lohner ficou convencido.
Ferdinand Porsche e a sua noiva partem para uma viagem que vai ser inesquecível para Ferdinand Porsche. A primeira grande viagem de automóvel de Ferdinand Porsche e muito provavelmente a viagem mais emocionante da sua vida, porque, segundo os registos históricos, Ferdinand Porsche vai chorar ao volante quando avista a sua terra natal da qual se tinha afastado há vários anos.
O itenerário
Viena-Maffersdorf foi traçado. O trajecto é uma aventura sem precedentes. São 400 kilómetros em estradas não preparadas para automóveis. Chegar ao destino é um dado incerto. O automóvel é o célebre “
System Lohner-Porsche” de dois motores eléctricos acopolados a dinãmos colocados nas rodas da frente, que tinham como fonte de energia umas baterias que procediam ao recarregamento. Era por isso, um veículo misto, o primeiro híbrido da história do automóvel, pois locomovia-se a gasolina e a electricidade. No alemão cerrado de Ferdinand, este apresentava o seu sistema como: “
ein Benzinmotor eine Dynamomschine”.
O primeiro incidente da viagem aconteceu na
Morávia. No seu registo escrito,
Aloísia conta que, sic : “
naquela estrada, onde se pode acelerar, pensei que o meu coração e os meus pulmões tinham ficado deslocados no meu corpo.” Um problema no carburador pôs o Lohner a espichar gasolina por todos os lados e estacou a fumegar. O caos ficou instalado, porque apareceu um bando de gansos que se puseram tresloucados a esvoaçar à volta daquela coisa nunca antes vista. Ferdinand recorda a hilariante cena, porque, começaram a aparecer umas velhotas da aldeia muito assustadas, com crucifxos no ar, a baterem no peito e a chamarem-lhe “diabo a vapor”.
Por todo o lado por que passaram, a euforia era total. Ferdinand Porsche, com uns óculos enormes colocados nos olhos para auxiliarem a condução, estava transformado numa personagem de ficção científica. O segundo incidente da viagem aconteceu quando um cavalo que puxava uma carroça de um agricultor, se espantou e se atravessou à frente do
Lohner que ia disparado pela estrada. Ferdinand conseguiu evitar o choque, mas
Aloísia colocou o seu véu à volta da cabeça, porque pensava que iam morrer todos num acidente.
E o momento inesquecível para Ferdinand Porsche, o momento em que ele se emociona ao volante...precisamente....o momento em que ele vislumbra ao longe, ainda a vários kilómetros de distância e a surgir na linha do horizonte, algo que lhe era familiar...nada mais nada menos do que...as chaminés da fábrica dos Ginzkey!!
Há 8 anos que Ferdinand tinha partido da sua terra. De jovem canalizador, regressa agora ao volante de uma máquina diabólica. Um automóvel que ele inventou e desenvolveu. O orgulho que sente nele próprio é incomensurável. Em Maffersdorf só existia um automóvel e apenas um cidadão sabia conduzir: e como não podia deixar de ser, essa pessoa era
Willy Ginzkey. A grande novidade era mesmo o facto de o automóvel ser um híbrido.
Na
Hauptstrabe n.º 38, toda a família Porsche sai à Rua para receber o filho pródigo que regressa a casa. Os pais de Ferdinand estão numa ansiedade e excitação enormes. O seu filho é uma pessoa importante! Exultam de contentamento e orgulho quando o vêem chegar naquela carruagem ultra-moderna. O único fotógrafo da terra foi chamado para registar o grande momento.
Mal o Lohner pára, Ferdinand levanta-se e ainda lá dentro, mas de pé, anuncia aos pais: “
apresento-vos Louise, a minha noiva!”. A mãe de Ferdinand quase desmaia e deita ambas as mãos à cabeça. Tinha prometido a mão do filho à filha de um importante industrial da terra, uma rapariguita chamada
Antónia. Ao que parece, a moçoila andava-se a guardar à muito, ansiando pelo já famoso jovem Porsche.
Anna Ehrlich ficou completamente surpresa. A noiva do seu filho era uma jovem sofisticadíssima de Viena.
Antónia nunca teria qualquer hipótese. O pai
Anton assustou-se e até pensou que a rapariga estava doente, tal era a magreza e elegância da jovem. Ficou preocupado e disse-lhe em privado que ele só poderia partir depois de ela engordar. Aquilo não era normal e era até perigoso. Posteriormente, tanto o pai como a mãe, vão tentar demover Ferdinand de prometer casamento a Louise. “
És muito novo, ainda” – vai dizer-lhe o pai. “
vai, diverte-te e daqui a uns tempos tens um grande dote à tua espera". Nem pensar. Ferdinand já era senhor da sua vida. Vai mesmo casar-se com Louise, e um dia há-de lhe construir uma casa de férias nos Lagos Austríacos à qual chamará "
Louisenhuette".
Lá fora a população ia reunindo-se para ver o automóvel. Todos queriam apertar a buzina, que era a grande vedeta.
Anton Porsche vai subir a bordo do
Lohner e, antes de se sentar no lugar de trás, vai fazer um simples mas muito sentido discurso de homenagem ao seu filho. O único que lhe faz em toda a sua vida: “
eu já fui eleito vice-prefeito, já cumprimentei o Imperador, mas este dia, em que subo a bordo desta carruagem que o meu filho construíu, é o dia mais importante da minha vida”. A família e os vizinhos batem palmas. São merecidas!
Ferdinand vai passear com o pai, atingindo 30 km/h na rua principal de Maffesrdorf. As pessoas que viram a cena de relance interrogaram-se se não estariam enganadas, pois parecera-lhes ver o canalizador a grande velocidade. Alguns juraram que era o
Barão Liebieg de Reichenberg. E vai ficar essa piada para a pessoa de
Anton Porsche. Nessa noite, Ferdinand Porsche fez questão de mostrar a sua invenção à namorada. E, ao fim de 8 anos, volta a ligar as mesmas baterias que ainda iluminam a sua casa.
Fotos: O momento da chegada a casa depois da hrande aventura. Na segunda foto, algumas legendas:
Foto: Emil Matzig, o único fotógrafo de Maffersdorf. Foi ele que tirou a fotografia anterior:
Foto: As chaminés da fábrica dos tapetes que emocionaram Ferdinand Porsche, quando as viu ao longe:
Foto: O jovem Ferdinand junto ao seu primeiro invento. O gerador de electricidade de sua casa:
Foto: Dois anos depois, Ferdinand e Aloisia vão casar. Na foto, o certificado de casamento:
A MORTE DOS PORSCHE
Foto: Perto do cemitério existe um local perfeito para se comtemplar e despedir pela última vez da aldeia. Ao longe percebem-se as chaminés:
Foto: O cemitério antigo de Maffersdorf:
Foto: O cemitério de Maffersdorf na actualidade, e o local onde está septultada toda a família de Ferdinand Porsche (nas imagens veêm-se as campas do pai e dos irmãos). Na última foto vemos o coveiro local a fazer de cicerone e a mostrar o local a quem lá se deslocou para o efeito:
Foto: A campa de Ferdinand Porsche, na Áustria, no cemitério privado da família, longe de Maffersdorf.
Na sua morte, ocorrida às 13h e 55 min. Do dia 30 de Janeiro de 1951 em
Feuerbacherweg, 48, o corpo do "
Der Konstrukteur, Professor, Dr.-Ing. Ehrenhalber Ferdinand Porsche” vai ser tranladado para
Zell am See, na
Áustria, onde ficará sepultado no jardim da "
Porsche Villa”. Sempre desconfiei da pertinência deste seu último reduto. Faria mais sentido um regresso a “casa”, embora, se calhar, tal regresso não fosse visto com muito bons olhos. Era de pobre...talvez.
Uma casa simples, de gente trabalhadora e humilde. Uma casa onde Ferdinand Porsche levou a cabo a sua primeira invenção de génio sem formação. Uma casa simples, construída numa Rua simples de uma terra simples. Uma terra onde existiu um homem responsável pela descoberta do jovem Porsche. Uma terra que foi o destino da sua primeira grande aventura motorizada. Uma terra chamada Maffersdorf. E que ainda existe. E quem sabe, será mesmo lá o funeral que há-de vir.
OS GUARDIÕES DAS MEMÓRIAS
NOTA IMPORTANTE:
Algumas das fotografias colocadas abaixo são politicamente incorrectas. Não queria no entanto que as deixassem de ver, já que, provavelmente, não surgem muitas oportunidades de ver documentos históricos da Porsche, deste tipo. As fotografias são do crédito da colecção de
Milan Bumba, a quem eu presto aqui homenagem, já que é uma espécie de lider dos guardiões da memória de Ferdinand Porsche em Maffersdorf, organizando todos os anos peregrinações ao n.º 38 da Hauptstrabe, a casa de Ferdinand Porsche, já desde 1985 através do PORSCHE CLASSIC CLUB .
Ao contrário do resto do Mundo, os Porschistas da República Checa, sem qualquer espalhafato ou alarido, e na maior das discrições, continuam a fazer por perpetuar a grandiosidade de Ferdinand Porsche, enquanto Homem e Génio.
Estas fotografias retratam a visita do automóvel Volkswagen a Maffersdorf. Segundo
Milan Bumba, não existe ainda prova de que Ferdinand Porsche tenha estado nesta visita dos VW. Parece no entanto uma evidência. Com efeito, até eu fiquei surpreendido, já que, quando as vi pela primeira vez, não me apercebi de que era a casa natal de Ferdinand Porsche. Os carochas são dos primórdios. Os primeiros, o IIIA 43007 tipo 60l foi entregue a Duckhoff Otto, director da recém-fundada empresa VW-KDF. O IIIA 43010 Tipo 60CL foi oferecido ao Dr. Anton Piëch, Advogado, pai do actual Ferdinand Piech; o IIIA 43011 Tipo 60CL, era o carro pessoal de Ferdinand Porsche. O IIIA 43009 foi um VW KDF-38 / Tipo 60l feito no final do Verão 1938. Por sua vez o IIIA-43015 tinha o chassi número "38/15" foi usado como veículo de demonstração da fábrica da VW de Berlim. Ao que tudo indica, este acontecimento terá ocorrido em 1938, nos tradicionais festejos da chegada da Primavera, uma festa tradicional de Maffersdorf.
Foto: Nesta montagem podemos ver duas coisas muito interessantes: à esquerda o escudo de maffersdorf onde se percebe perfeitamente a natureza da localidade, a mistura da realidade agrícula com a realidade industrial – de um lado uma rapariga do campo com uma foice na mão, de outro uma rapariga com uma roda dentada. No lado direito da foto, uma fotografia fantástica de um 944 vermelho, estacionado à noite à porta da casa de Ferdinand Porsche, apenas com a luz do lampião da rua. Nesta época, a casa ainda conservava bastante traça da original, e ainda não tinha qualquer placa alusiva:
Fotos: Crédito do Classic Club. Reportagem de “peregrinações” anteriores. Nesta primeiro tem-se uma visão da Hauptstrabe n.º 38 (agora, Tanvaldské Ulici), com os“fiéis” a estacionar e percebe-se que a Rua é a subir:
Foto: Lamentavelmente, a casa (que aparenta ser um estabelecimento comercial) está cheia de publicidade nas paredes. Nesta fotografia vê-se a casa ainda em branco sujo/cinza (agora está amarelada) e o busto de Ferdinand Porsche na fachada:
Foto: a placa com o busto. A de parede branca mais antiga. Agora tem um remate à volta:
Fotos: Algumas interessantíssimas imagens das romarias:
NOTA II: para quem quiser recorrer a um auxiliar da genealogia da famíla Porsche (pode dar jeito) aqui fica um:
Nachkommen von Anton PORSCHE
I.1 Anton PORSCHE, Klempnermeister (Spengler); Gründer des Ortsbildungsvereins; Obmann des Bezirksfeuerwehrverbandes; Gründer und Hauptmann der Maffersdorfer Feuerwehr; Obmann des Veteranenvereins; Vize-Bürgermeister; Fuhrunternehmer, geboren circa 1845, (Eltern bis jetzt unbekannt).
Standesamtliche Trauung circa 1870 mit
Anna EHRLICH, (Eltern bis jetzt unbekannt).
Aus dieser Ehe stammen:
1. f Anna, geboren 1871 in Maffersdorf, Böhmen, Österreich-Hungarie (2008: Vratislavice nad Nisou, Tschechien).
2. m Anton, geboren 1873 in Maffersdorf, Böhmen, Österreich-Hungarie (2008: Vratislavice nad Nisou, Tschechien).
3. m Prof.Dr.Ing. Ferdinand (siehe II.3).
4. f Hedwig, geboren 1879 in Maffersdorf, Böhmen, Österreich-Hungarie (2008: Vratislavice nad Nisou, Tschechien).
5. m Oskar, Spengler, geboren circa 1881 in Maffersdorf, Böhmen, Österreich-Hungarie (2008: Vratislavice nad Nisou, Tschechien). Oskar hat das väterliche Geschäft weiter geführt.
Standesamtliche Trauung circa 1905 mit N.N.
II.3 Prof.Dr.Ing. Ferdinand PORSCHE, geboren am 03-09-1875 in Maffersdorf, Böhmen, Österreich-Hungarie (2008: Vratislavice nad Nisou, Tschechien), gestorben am 30-01-1951 in Stuttgart, Deutschland mit 75 Jahren, bestattet in Zell am See, Österreich, Sohn von
Anton PORSCHE (siehe I.1) und
Anna EHRLICH.
Standesamtliche Trauung mit 29 Jahren am 12-09-1904 in Maffersdorf, Böhmen, Österreich-Hungarie (2008: Vratislavice nad Nisou, Tschechien) mit
Aloisia Johanna (Louise) KAES, geboren in Purschau, Böhmen, Österreich-Hungarie (2008: Tschechien).
Aus dieser Ehe stammen:
1. f Louise Hedwig Anna Wilhelmine (Louise) (siehe III.2).
2. m Prof.Dr. Ferdinand Anton Ernst (Ferry) (siehe III.3).
III.2 Louise Hedwig Anna Wilhelmine (Louise) PORSCHE, geboren am 29-08-1904 in Wiener Neustadt, Österreich, gestorben am 10-02-1999 in Zell am See, Österreich mit 94 Jahren, Tochter von
Prof.Dr.Ing. Ferdinand PORSCHE (siehe II.3) und
Aloisia Johanna (Louise) KAES.
Standesamtliche Trauung 1928 mit
Dr. Anton PIëCH, Rechtsanwalt, geboren 1894, gestorben am 11-09-1952.
Aus dieser Ehe stammen:
1. m Ernst (siehe IV.1).
2. f Louise (siehe IV.4).
3. m Dipl.Ing. Dr. Ferdinand Karl (Ferdinand) (Burli) (siehe IV.6).
4. m Hans-Michael.
Verbindung mit N.N. 6 Kinder in diese Ehe.
III.3 Prof.Dr. Ferdinand Anton Ernst (Ferry) PORSCHE, geboren am 19-09-1909 in Wiener Neustadt, Österreich, gestorben am 27-03-1998 in Zell am See, Österreich mit 88 Jahren, Sohn von
Prof.Dr.Ing. Ferdinand PORSCHE (siehe II.3) und
Aloisia Johanna (Louise) KAES.
Standesamtliche Trauung circa 1933 mit
Dorothea (Dodo) REIZ, geboren 1911, gestorben 1985.
Aus dieser Ehe stammen:
1. m Ferdinand Alexander (Butzi, FA) (siehe IV.10).
2. m Gerhard Anton (Gerd) (siehe IV.12).
3. m Hans-Peter (siehe IV.13).
4. m Wolfgang (siehe IV.15).
IV.1 Ernst PIëCH, Sohn von
Dr. Anton PIëCH, Rechtsanwalt, und
Louise Hedwig Anna Wilhelmine (Louise) PORSCHE (siehe III.2).
Verheiratet mit N.N.
Aus dieser Ehe stammen:
1. m Florian.
IV.4 Louise PIëCH, geboren 1932, gestorben am 21-10-2006, Tochter von
Dr. Anton PIëCH, Rechtsanwalt, und
Louise Hedwig Anna Wilhelmine (Louise) PORSCHE (siehe III.2).
Verheiratet (1) mit AHORNER, Obsthändler.
Verheiratet (2) mit DAXER, Antiquitätenhändler.
Aus der ersten Ehe stammen:
1. f Louise Dorothea (Louise).
Verbindung mit KIESLING.
2
. m Josef Michael (Josef), Unternehmungsberater.
IV.6 Dipl.Ing. Dr. Ferdinand Karl (Ferdinand) PIëCH (Burli), geboren in Wien, Österreich, (12 Kinder von 4 Frauen), Sohn von
Dr. Anton PIëCH, Rechtsanwalt, und
Louise Hedwig Anna Wilhelmine (Louise) PORSCHE (siehe III.2).
Ehefrau ist
Marlene (Marliese) MAURER.
Aus dieser Ehe stammen:
1. m Anton.
IV.10 Ferdinand Alexander PORSCHE (Butzi, FA), geboren in Stuttgart, Deutschland, Sohn von
Prof.Dr. Ferdinand Anton Ernst (Ferry) PORSCHE (siehe III.3) und
Dorothea (Dodo) REIZ.
Verheiratet mit N.N.
Aus dieser Ehe stammen:
1. m Dr. Ferdinand Oliver (Oliver), Reachtsanwalt.
Verheiratet mit VOITH.
2. m Kai Alexander.
3. m Mark Philip.
I
V.12 Gerhard Anton (Gerd) PORSCHE, Landwirt in Oesterreich, geboren in Stuttgart, Deutschland, Sohn von
Prof.Dr. Ferdinand Anton Ernst (Ferry) PORSCHE (siehe III.3) und
Dorothea (Dodo) REIZ.
Ehefrau ist
Marlene (Marliese) MAURER.
Aus dieser Ehe stammen:
1. f Geraldine.
IV.13 Hans-Peter PORSCHE, geboren in Stuttgart, Deutschland, Sohn von
Prof.Dr. Ferdinand Anton Ernst (Ferry) PORSCHE (siehe III.3) und D
orothea (Dodo) REIZ.
Verheiratet mit N.N.
Aus dieser Ehe stammen:
1. m Peter Daniell (Daniell) (siehe V.11).
I
V.15 Wolfgang PORSCHE, geboren in Stuttgart, Deutschland, Sohn von
Prof.Dr. Ferdinand Anton Ernst (Ferry) PORSCHE (siehe III.3) und
Dorothea (Dodo) REIZ.
Verheiratet (1) mit N.N.
Verheiratet (2) mit
Prof. Susanne BRESSER, Filmproducent, geboren in Frankfurt am Main.
Aus der ersten Ehe stammen:
1. m Christian.
2. f Stephanie.
Aus der zweiten Ehe stammen:
3. m Ferdinand R.W.
4. m Felix Alexander.
V.11 Peter Daniell (Daniell) PORSCHE, Musiktherapeut, geboren in Stuttgart, Deutschland, Sohn von
Hans-Peter PORSCHE (siehe IV.13) und N.N.
Verheiratet mit Aglaia N.N.
Aus dieser Ehe stammen:
1. f n.n.
2. m n.n.
(Para mais informação consultar a fonte em http://www.gerritspeek.nl/porsche/pg-frm3.htm no site do autor Gerrit Speek)