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Antigo 09-11-2008, 1:10
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Padrão FERDINAND PORSCHE: o soldadinho de chumbo.



NOTA: O Gabinete de Desenho e de Engenharia de Ferdinand Porsche, o tal que tinha o nome esquisito de “Porsche Konstruktionsburo fur Motoren-Fahrzeug-Luftfahrzeug und Wasserfahrzeugbau" foi o responsável pelos mais célebres TYPES DA PORSCHE (assim eram designados os Projectos) e explorou, principalmente (e por ordem de importância crescente) as seguintes áreas:

1 – pequenos nichos como as energias alternativas, eólica, eléctrica, ou com recurso a matérias primas naturais.
2 – pequenas incursões em Indústrias mais específicas, como a aviação.
3 - a engenharia Agrícola e os famosos TRACTORES.
4 – A engenharia automóvel comercial e desportiva.
5 – A engenharia Militar.


Pois bem: é impossível compreendermos Ferdinand Porsche e a sua dimensão de genialidade se não olharmos para todo o seu trabalho desenvolvido ao serviço do Exército Alemão. Eu dou um exemplo. Ainda figura no Guiness Book como o veículo terrestre mais pesado alguma vez construído, o nome de Ferdinand Porsche. Se a Porsche hoje em dia é uma marca que produz automóveis fiáveis e robustos, não tenham a menor das dúvidas que isso em grande parte se deve ao background da marca desenvolvido na construção de tanques de guerra. Não se pode negar esta realidade. É absolutamente fascinante a vida de Ferdinand Porsche no período da Segunda Guerra Mundial. E a Porsche é o que é hoje, graças ao que o seu Fundador pôde desenvolver naquela época. Não considerarmos esta época da Porsche é uma lacuna e uma perca profundíssima na compreensão da marca. Este tópico que agora aqui trago, é pois 0% político, e 100% da genialidade de um Homem. Na parte que me toca, obviamente que nunca fui apologista da Guerra, ou de ideias ou ideais políticos de qualquer espécie (que abomino), muito menos de aqueles que puseram em causa a dignidade e o respeito pela pessoa humana – coisa que não aceito, nem nunca aceitarei. Desprezo e condeno toda e qualquer atrocidade, e estou totalmente ciente do horror do Holocausto bem como do genocídio ocorridos durante a segunda Guerra Mundial. Este tópico é totalmente baseado em factos verídicos e que não são segredo para ninguém. São públicos, vêm nos livros da história da Porsche, nomeadamente naqueles contados na primeira pessoa, pelos próprios membros da família Porsche. Este tópico é assim sobre Engenharia, sobre Ferdinand Porsche, sobre a Porsche e sobre a História.
Nada mais.



FERDINAND PORSCHE: o Soldadinho de Chumbo.

BERLIN. Verão de 1941.
São cerca das 9 horas da manhã e, apesar de o dia estar a crescer encoberto, a temperatura sobe já bem acima dos 20 graus. Ferdinand Porsche e o seu filho Ferry, indiferentes a estas condições atmosféricas, deslocam-se apressados em direcção ao imponente edifício da Chancelaria do Novo Reich (Reichskanzlei), totalmente rejuvenescido por Albert Speer (arquitecto e futuro Ministro da Guerra) e inaugurado a 10 de Janeiro de 1939. O Edifício em questão, é, em contraste com o tempo, de uma frieza e austeridade levadas ao expoente máximo. O monumento tem três portadas gigantescas, permanentemente guardadas por dois igualmente enormes soldados em sentido. Assim que avistam o Professor e o seu filho, esticam o braço, numa saudação vigorosa de respeito. Galgados os 10 degraus da escadaria frontal, sempre no mesmo ritmo apressado, são imediatamente acompanhados por um personagem fardado que lhes repete igualmente a saudação. Os passos continuam acelerados sem qualquer palavra, e o pequeno trio dirige-se até ao Hall de entrada que, por capricho do mentor da obra, foi mandado construir na parte traseira do edifício. O objectivo era tão só o de impressionar o visitante, fazendo-o percorrer um interminável corredor em mármore. E naquele corredor, que foi propositadamente construído para desembocar num salão com o dobro do tamanho da sala de Espelhos do Palácio de Versailles, tudo era impressionante. Uma vez atingido o Hall de entrada que não fica na entrada, Ferdinand e Ferry Porsche são mandados aguardar, em pé, já que naquela imensidão de espaço livre, não existia, sequer, uma cadeira. Pai e filho, involuntariamente, sentem um desconforto extremo. É indescritível o ambiente que se sente naquele salão, câmara ou o que quer que se lhe chame. A palavra mais correcta será a de calafrio, camuflado em medo. Não existe nada à sua volta. Nenhum objecto. Nenhum quadro nas paredes. É difícil de medir a dimensão do Salão tal é o seu tamanho, o seu esvaziamento de conteúdo e a dimensão gigantesca das portas que distorcem a percepção das escalas. Tudo é feito de mármore salmão, à excepção da clarabóia que percorre o tecto de uma ponta a outra. Ao fundo, a porta do destino, encabeçada pela ave agoirenta.. O silêncio era de tal maneira cortante e intimidador, que nenhum dos dois se atreveu a intentar qualquer conversa. Ferdinand Porsche ainda consultou o filho de soslaio, apertando o nó da gravata, esperando que aquele, com o olhar, desse o seu assentimento quanto à correcta postura do artefacto. A espera, parecia “purgatória”. Passam cerca de 30 minutos das 9 h e os Porsche são convidados a transpor a porta estrategicamente colocada ao fundo do Hall. Mais uns passos apressados, mais um interminável corredor, decorado de forma mais acolhedora, e são chegados ao seu destino. Uma porta de madeira trabalhada, com mais de 5 metros de altura, guardada por dois soldados e que mais parece uma entrada para um Templo. No cimo da porta consegue ver-se duas letras entrelaçadas: “A” e “H”.







Adolf Hitler.
A porta abre-se, os convivas entram e ao fundo do imenso gabinete, avistam aquele que os tinha lá convocado. O Füher mantinha uma relação umbilical com aquele Edifício. Uma vez confessou a Albert Speer que a sumptuosidade do espaço, a contrastar com a sua simplicidade, tinha um impacto brutal nos seus interlocutores, que ficavam fascinados com a sua personalidade de trato humilde. E a relação de Hitler com este espaço não vai ser apenas umbilical porque vai ser aqui, no bunker construído por baixo dele, que o Ditador, supostamente, irá encontrar a morte precisamente dali a mais ou menos 3 anos.
Ferdinand Porsche, curiosamente (diria até, muito curiosamente) conheceu Hitler no Castelo de Solitude, em 1925 aquando a realização do Grande Prémio Automóvel de Solitude, cuja meta, era precisamente o Castelo. Quem o apresentou foi Richard Voelter que era na altura um dos Directores da Daimler.
Não era a primeira vez que Ferdinand Porsche passava por aquela porta. Tinha sido neste gabinete que uma vez escutou a frase: “mais vale ter dois ferros no fogo do que só um”dita pelo AH para justificar o patrocínio da Daimler-Benz simultaneamente ao da Auto-Union.

Mal vê o Professor Hitler levanta-se extasiado e abre-lhe os braços em sinal de boas vindas, gritando “HERR DOKTOR!”. Na agenda da reunião secreta, apenas um tema: TANQUES DE GUERRA - PANZER.



Cerca de 3 anos antes, Ferdinand Porsche tinha travado com Hitler talvez a maior discussão que existiu entre ambos, exactamente por causa dos tanques de Guerra. É que Ferdinand Porsche tinha uma visão radicalmente oposta à do Terceiro Reich acerca deste tema. Na verdade, a teoria de Porsche era o da racionalização dos custos de produção e investigação em período de Guerra. Poucos veículos fascinaram tanto Ferdinand Porsche como os tanques Russos, principalmente o T34 e o KV-1. A tese apresentada por Ferdinand à PANZER COMISSION era a de que a Alemanha deveria copiar o modelo russo usado nos seus tanques. Porsche achava-os uma obra prima da engenharia, e gastou horas a tentar convencer a Panzer Comission que se seguissem aquele modelo, iria-se poupar uma quantidade imensa de dinheiro que de outra forma se teria que gastar na investigação. Na altura da Guerra, existiam no mundo sensivelmente três formas de construir Tanques: uns países fundiam as diferentes partes para as encaixar; outros soldavam-nas e os Russos, incrivelmente, dobravam-nas! Conseguiam dobrar armaduras em aço ou ferro com 5 cm de espessura, através de uma gigantesca prensa criada para aquele efeito. Nos tanques Russos, não se viam juntas nem soldas. Ferdinand Porsche sempre afirmou que isto foi das poucas coisas que o impressionaram na vida, e dizia constantemente, em conversas, que os russos dobravam o aço "como se fosse uma lata de biscoitos". E ficou totalmente estupefacto no dia em que descobriu que a prensa que os Russos usavam para dobrar os tanques, era, afinal, alemã!

NOTA: mais tarde vão também descobrir que os tanques Russos, já naquela altura, usavam o célebre sistema de torção da suspensão – que era uma patente Porsche!!! Porém, a teoria de Porsche nunca foi aceite. A Panzer Comission recusou-se sempre, terminantemente, a copiar o modelo inimigo (não obstante Ferdinand Porsche ser o Presidente, a pessoa mais importante do Comité).

O deles tinha que ser inventado, e tinha que ser melhor. Era imperativo que assim fosse.

OS ANÕES DE FERDINAND PORSCHE


O motivo da presente reunião, não era, porém, este. Hitler tinha uma ideia grandiosa em mente. E queria auscultar a maior autoridade em Tanques que alguma vez existiu à face da terra. Ferdinand Porsche porém, independentemente daquilo que teria para ouvir, fez questão de transmitir uma ideia que tinha matutado durante várias noites a fio, sem dormir. Preparou-a para a confrontar com Hitler, e o resultado vai traduzir-se num mal entendido que perdurará até aos dias de hoje.
Ferdinand, olhando para o seu interlocutor diz-lhe: “há uma coisa que eu não compreendo. Porque é que você coloca sempre os homens mais fortes dentro dos tanques? Não me parece uma medida nada adequada à realidade da guerra, principalmente quando não há verbas para investir em grandes quantidades de material.” Hitler escutou imperturbável o Professor, que continuou a sua prelecção, dizendo ”Na minha óptica, quanto mais pequena for a armadura dos tanques, mais fácil são de construir, logo, serão mais baratos. Por outro lado, tanques mais pequenos significam maior mobilidade, logo maior eficácia.” - “E o que é que o Herr Doktor sugere, então?” perguntou-lhe o Füher. - “Uma vez que os soldados fortes e grandes necessitam de uma cabina muito alta, eu sugeria que colocasse dentro dos Tanques, apenas os soldados pequeninos.” Retorquiu-lhe Porsche. A reacção de Hitler àquela observação terá sido histórica, e resultou numa sonora e prolongadíssima convulsão de gargalhadas.
NOTA: este episódio, vem actualmente referido nos livros como se o Professor quisesse ter tido uma intervenção anedótica, mas parece-me que esta proposta de Ferdinand Porsche não teria nada de estúpido e faria realmente todo o sentido, dentro da lógica do inventor.

Fotos: os soldadinhos Alemães que Ferdinand Porsche se referia:









Foto: dos soldadinhos aos tanquezinhos. A resposta dos soldados alemães à provocação:



Voltando à importante reunião e passado aquele agradável e divertido momento, Hitler vira-se para o Professor e diz-lhe: “Olhe, realmente tem uma certa razão. Eu também partilho a ideia de que as pessoas pequenas são as mais corajosas. Temos o exemplo do Príncipe Eugénio e do Napoleão. Só o Rei Victor Emanuel, estragava esta regra.” E disparou: “Porque razão é que o Professor nunca foi à Rússia ver os Panzers em acção. Já soube que capturamos um Tanque Russo?Ferdinand Porsche gelou dos pés à cabeça. Percebeu imediatamente que aquela pergunta era retórica, e que estava a receber uma ordem directa do Füher. Não tinha vontade nenhuma em fazer aquela longínqua viagem. Afirmou-se imediatamente disponível, e disse-lhe que partiria com tempo, pois teria que se deslocar no seu próprio automóvel, dado ser o único meio de transporte em que confiava.
Hitler, ao ouvir aquelas palavras, levanta-se subitamente e diz: “isso é impensável, Herr Doktor. Vai no meu avião pessoal e conduzido pelo meu melhor piloto!”. E, mesmo antes dos Porsche transporem a porta, na saída, ainda puderam ouvir do fundo da sala: - "Ha!....e quando chegar, tenho umas ideias para si....mas em grande..."

PANZER "ACTION" NA FRENTE RUSSA.

O avião particular que Hitler se referia era o espantoso Focke Wulf Kondor um quadrimotor avião comercial, totalmente adaptado numa versão militar. O piloto esse era o Colonel Hans Baur – o maior Ás da aviação alemã de todos os tempos. Segundo os historiadores, terá sido, provavelmente, a pessoa de maior confiança com que Hitler teve ao longo da sua vida. Em 1931, Baur já tinha sido homenageado com o maior troféu da aviação pela Lufthansa, por ter sobrevoado 100 vezes os Alpes. O Kondor pessoal de Hitler, estava de tal maneira personalizado ao seu gosto que, desde a sua afectação a avião particular, passou a ser conhecido como a “Fuhermaschine”. O facto de Hitler ter disponibilizado o seu avião pessoal e o seu homem de maior confiança diz bem do respeito que Ferdinand Porsche lhe merecia. A viagem até à frente Russa foi efectuada em Dezembro de 1941 e foi, para Ferdinand Porsche, inesquecível.

Foto: Hans Baur



Foto: o Kondor privado de Hitler e o seu interior:





E regressou da Rússia completamente elucidado do erro gigantesco que os Alemães estavam a cometer. Os Russos eram muito espertos e experientes nestas andanças. Os seus tanques eram os mais eficazes, porque eram os mais simples de todos. E era esta a lógica que Porsche perfilhava. Quanto mais simples, menos peças; quanto menos peças, menos avarias. Ferdinand Porsche queixava-se muitas vezes ao seu filho que não lhe entrava na cabeça, porque razão é que os tanques de guerra deles tinham que ser os mais avançados do Mundo. E dizia: “que lógica tem, os nossos tanques conseguirem andar na Autobahn? que lógica tem, os nossos tanques terem direcção e virarem com a precisão de um automóvel ? (os tanques Russos viravam com o uso alternado dos travões laterais e o consequente desequilíbrio do veículo); que lógica faz, um veículo que tem que andar na lama e na terra, constantemente sujeito a intrusão de areia e de terra, ter componentes mecânicos complicados e de difícil reparação ?" A tese de Ferdinand Porsche era inquestionável: “um veículo de guerra, é concebido para combater e não para estar parado num mecânico”. Outra coisa que deixava irritado o Professor, era o facto de ser a MAYBACH a construir os motores dos tanques. Para ele, a Maybach apenas tinha capacidade para construir motores “performantes” e demasiado sensíveis.

Ficou célebre também, o ensaio comparativo que foi feito no banco de ensaios pelo Alto Comando Nazi ao motor Diesel do T34 Russo (capturado), para demonstrar publicamente que os Tanques Russos tinham muito menos potência, quase metade, quando sujeitos ao banco de testes. Ferdinand Porsche assistiu calado à demonstração e no final, levantou-se, dirigiu-se aos responsáveis daquele exercício de propaganda e disse-lhes: “só há aqui um pequeno pormenor que estão a descurar: este motor tem uma válvula que controla a injecção e que está accionada, trata-se de um pequeno sistema criado pelos Russos, para impedir que o condutor ultrapasse um regime de rotações normal para o motor. Como os nossos tanques não possuem tais válvulas, e para que a comparação seja justa, precisamos de a desligar." E com o movimento de um dedo, Ferdinand Porsche colocou o motor Russo a debitar quase o dobro da potência do motor alemão.

O primeiro Tanque a ser desenhado pelo Gabinete da Porsche foi o Type 100, também conhecido como Leopardo, estreado em 1941. Não é dele que vamos cuidar, como também não cuidaremos do tanque Tiger, do tanque Ferdinand, etc, pois cada veículo feito pela Porsche, arrasta páginas de informação. Neste tópico só cuidaremos de UM Tanque.

Foto: os tanques Russos.



BOBLINGEN PANZER KASERNE

Conhecido por Campo de testes de Tanques de Guerra. Böblingen era o equivalente a Weissach dos nossos tempos. Era o local onde Ferdinand Porsche ensaiava e testava todas as suas criações bélicas. Pertence ainda a Estugarda, afastando-se apenas cerca de 15 km do seu centro. Quase todas as fotografias que se vêem tiradas a Ferdinand Porsche junto de Tanques, foram feitas em Böblingen. No final da Guerra vai servir de quartel General para o Exército Americano intalado em Stuttgart, nomeadamente em Zuffenhausen, onde tomou conta da Werk 1 da Porsche. Sempre me custou a compreender porque é que nenhum Porschista visita os campos de Boblingen. A meca da Engenharia de Ferdinand Porsche. Um lugar histórico. Nunca conheci ou soube de qualquer visita àquele lugar. Á semelhança de Gmund, deve ser o local na terra mais fiél às raízes da Porsche, uma vez que não terá sido sujeito a grandes alterações.



Foto: mapa referente à ocupação Americana de Stuttgart:



Foto: Boblingen actualmente vista do céu:



O TYPE 205 – O RATO COLOSSAL - UM TRABALHO DA PORSCHE PARA O GUINESS BOOK OF RECORDS.



BERLIN. Junho de 1942.
O mesmo local, nova reunião secreta. Hitler preparou bem a sua ideia para a discutir com o Professor. Desta vez, o seu “genial” propósito era construir uma coisa que pudesse suplantar de surpresa o Mundo inteiro, principalmente os inimigos. A sua ideia era uma fortaleza com rodas, um navio de guerra para se deslocar em terra. Uma cidade bélica com rodas, capaz de semear a destruição por onde passasse. Por outro lado, teria uma dupla função de constituir um Bunker, de forma a ser colocado estrategicamente como uma unidade fixa, embora com capacidade de se mexer. Seria, por isso, também, o primeiro Bunker móvel da História. Claro que todas estas ideias malucas e megalómanas eram, na prática inquestionáveis por Ferdinand Porsche. Que remédio tinha ele em ir atrás daquela mente atolada de ideias inconcebíveis. Os primeiros planos começaram a 4 de Junho de 1942 e desde logo lograram obter muita resistência pelo Panzer Comité e o Alto Comando Alemão. O “monstro” que Porsche queria criar era considerado impossível de executar. Desde logo porque um tanque com aquele gigantesco tamanho, nunca conseguiria sequer virar de direcção. Ferdinand Porsche, ao contrário, embora discordando totalmente com o Projecto, encarava a empreitada como um fantástico desafio. E para que pudesse ser bem sucedido, convidou outras empresas alemãs a participar no Type 205: a Siemens, a Skoda e principalmente a Krupp que já tinha sido a responsável pelos tanques Russos de grande porte, bem como pelo Tiger (VK7001) e pelo PzKpfw VII Lowe (VK7201).

NOTA:
A Krupp integra hoje o grupo ThyssenKrupp, AG que faz, entre outras coisas, elevadores. De certeza que muitos de nós deparamo-nos constantemente com estes elevadores no nosso dia-a-dia. Da próxima vez que derem por ela, lembrem-se que foi uma das maiores fábricas bélicas ao serviço de Hitler. Foi fundada por Friedrich Krupp em 1811, e teve um papel muito marcante na História: foi esta empresa que inventou o aro das rodas dos combóios, descoberta que contribuiu em muito para o desenvolvimento mundial dos transportes. O grande desafio do maior Tanque de Guerra da história, foi exactamente a sua rotação, tendo em conta que não era fácil, com aquele tamanho, acertar na ideal medida de largura contra comprimento. Antes de estar completo o primeiro protótipo em finais de 1943, Ferry Porsche e o pai, construíram um modelo à escala, para ser operado perante os Engenheiros do Estado. Foi uma coisa nunca antes feita, e deixou todos totalmente boquiabertos, principalmente porque o modelo consegui girar na perfeição sobre o seu próprio eixo.
O Type 205 foi nomeado inicialmente como «Mammut» (mamute), tendo posteriormente sido renomeado para Maus Projekt Porsche (rato) tendo ido afastado a denominação Maus Bär (urso) e ainda Mäuschen (ratinho). Internamente foi denominado Panzerkampfwagen VIII Maus (Sd.Kfz 205) e o desenho VK70001/Porsche.





Foto: o Maus em comparação com outra artilharia pesada:





Foto: o interior do Maus:



Foto: o mini-modelo de madeira em acção:



Este colosso da engenharia pesava 188 toneladas media 10.1 metros de comprimento, 3.67 metros de largura e 3.66 metros de altura. Estava equipado com um motor Daimler Benz V12 de 44.5 litros debitando 1.080 cv às 2300 rpm. Na fúria da vontade de construção, foram esquecidos alguns pormenores capitais, como a resistência do empedrado das ruas por onde passasse o Maus, já para não falar nas Pontes que não o aguentariam de certeza. Por causa disto, Ferdinand Porsche vai ter que conceber à pressão um “rail car” para transportar o tanque. Era um carro de carris composto por 14 eixos (denominado Verladewagon) e foi produzido pela fábrica Austríaca Graz-Simmering-Pauker. Os testes foram realizados, excepcionalmente, em Kummersdorf (Berlim).



A artilharia era de origem naval com canhões de 128mm e 75mm. Estava previsto que o canhão chegasse aos 150 mm e 37 calibres (equivalendo o comprimento do cano a 37 vezes o calibre, ou seja, 37 X 150) e montando ainda um outro, de 105 mm por 70 calibres. A velocidade máxima que estava previsto atingir era de 20 km/h, embora nos primeiros testes o motor mercedes, apenas tivesse conseguido lograr uns parcos 13 km/h.





No primeiro protótipo (V1), foram colocadas umas «Belastungsgewicht» que querem significar simuladores de canhões, construídos com o mesmo peso dos futuros verdadeiros a instalar. Quando ficou pronto, foi pintado com uma camuflagem e com o sádico requinte de ter pintada uma foice e um martelo em vermelho, como disfarce, para pensarem que seria um tanque capturado pelos Russos. O Maus II (v2), como segundo protótipo, foi concluído em Março de 1944 e apresentou grandes evoluções em relação ao V1. O motor era já o Daimler-Benz MB 517 Diesel com 12 cilindros e 1200 cv. Chegou mesmo a incluir miras telescópicas feitas com lentes Zeiss, o suprassumo do suprassumo das lentes de máxima qualidade.





Foto: raríssima e única foto existente dos dois únicos Maus (V1 e V2) juntos, escondidos num Bunker Militar:



O mais irónico da história do Maus, é que tamanha megalomania apareceu numa altura em que a Alemanha entrava em acentuado declínio. O Maus estava destinado a ser construído em cerca de 150 unidades, grande parte delas a serem enviadas para as praias da Normandia. Foram feitos dois protótipos apenas, porque o Terceiro Reich colapsou. E ambos os Maus foram apreendidos pelo inimigo, como troféus de Guerra e símbolo do poderia dos Alemães. O protótipo 1 (V1) (que tinha canhões de brincar) nunca chegou a levar os canhões a sério. Quando, no final da Guerra, a fábrica da Krupp em Essen foi invadida, foram descobertos o canhão que seria para colocar no protótipo 1 e ainda um terceiro Maus muito incompleto. O V2 (2.º protótipo) também ironicamente, chegou a combater, usado para defender o próprio recinto de testes de Kummersdorf. Se algum de nós quiser ver esta “bela-horrível” maravilha da engenharia, demonstrativa da genialidade inesgotável de Ferdinand Porsche, poderá fazê-lo deslocando-se ao Museu das Forças Armadas de Kubinka (perto de Moscovo) na Rússia. O exemplar que lá está é o que sobrou dos dois protótipos – a parte bélica do V2 montada na carcaça do V1.



Foto: os destroços a serem rebocados:



Foto: o Maus no Museu Kubinka. Inicialmente foi exposto sem qualquer pintura, mas, mais recentemente, foi-lhe pintada a camuflagem:



Foto: muito interessante colecção de tanques “Maus” de modelismo, onde foi recriada as diferentes versões existentes do Type 205 de Ferdinand Porsche:



O GIGANTE VIRA ANÃO – A MEGALOMANIA MEGALÓMANA
Enquanto Ferdinand Porsche desenvolvia os diversos Projectos militares, Hitler não parava de procurar o impossível numa doentia procura da grandeza. Aproveitando as excelentes relações com a Krupp, encarregou esta empresa de construir uma das mais incríveis máquinas de guerra também construídas para a Operação Barbarossa: o Canhão Gustavo (Schwerer Gustav) que foi o maior do mundo, pesando 1350 toneladas, com o calibre de 80 centímetros e necessitando de uma tripulação de 2750 homens para a sua montagem. Era capaz de arremessar um projetil de 7 toneladas a uma distância de 37 km. A versão mais famosa deste canhão ficou conhecido como “Dora”. O problema foi que, Hitler ficou tão entusiasmado com o Canhão, que comissionou a Krupp para construir um Tanque de Guerra que pudesse ser muito maior do que o Maus de Ferdinand Porsche. Entusiasmada, a Krupp desenvolveu um Projecto para um tanque de mil toneladas de nome “Ratte”. Para locomovê-lo estava pensada uma junção de 8 motores Daimler a debitar um total de 16.000 cavalos de potência. O Projecto, provavelmente inexequível, até porque Ferdinand Porsche não estava a coordenar, foi cancelado por Albert Speer em 1943. O Império da família Krupp terá sido provavelmente, um dos expoentes máximos Industrial em toda a Europa durante aquele século. Vai ser totalmente dizimada pelas forças aliadas e os seus responsáveis irão ser condenados no Julgamento de Nuremberga.

Foto: Alfred krupp construiu a fábrica à volta da casa dos seus pais e nunca a alterou, para dar um exemplo de humildade a todos os trabalhadores:



Foto: a Krupp no apogeu:



Foto: e no seu fim. Após ter sido dizimada a fábrica, o lugar transformou-se num degredo de crime e prostituição:



Foto: o canhão Gustav, na versão “Dora”:



Fotos: o inacreditável e inconcebível “Ratte”:







O dia 30 de Abril de 1945 foi um dia extremamente calmo e sem sobressaltos na pacata aldeia de Gmund.





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  #2  
Antigo 09-11-2008, 8:51
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Ace Ace está offline
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Padrão Re: FERDINAND PORSCHE: o soldadinho de chumbo.

É domingo de manhã, ainda não devo estar completamente acordado...

Volto mais tarde, quando tiver a certeza que não estou a sonhar....
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  #3  
Antigo 09-11-2008, 10:00
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Idem,idem,aspas,aspas.

Esta é muito profunda tem de ser lida bem acordado.

Volto mais logo.Mas o que este homem descobre deixa-me atónito.

MRS
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  #4  
Antigo 09-11-2008, 11:52
Avatar de Diácono Luís
Diácono Luís Diácono Luís está offline
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Padrão Re: FERDINAND PORSCHE: o soldadinho de chumbo.

Bem... mais uma crise conjugal em perspectiva...

Eu vou querer ficar em casa, a ler... e a minha mulher a dizer que é só fórum, e que não lhe ligo...
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  #5  
Antigo 09-11-2008, 12:19
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Foogo !! digo mais do mesmo ;

Agora vou comprar tempo para debruçar-me sobre esta bela leitura
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Ferdinand Alexander Porsche
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  #6  
Antigo 09-11-2008, 17:04
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Diácono Luís Diácono Luís está offline
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Agora sim li tudo... e vou resolver o problema conjugal...

Acabei de enriquecer mais um pouco...
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  #7  
Antigo 09-11-2008, 17:08
Avatar de Santa-Bárbara
Santa-Bárbara Santa-Bárbara está offline
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Padrão Re: FERDINAND PORSCHE: o soldadinho de chumbo.

De facto,as coisas que este Homem descobre!
Este Zico, é o Maior!
Obrigado por este magnífico documento.
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  #8  
Antigo 09-11-2008, 18:20
Avatar de José Aguiar
José Aguiar José Aguiar está offline
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Padrão Re: FERDINAND PORSCHE: o soldadinho de chumbo.

O Zico agora faz concorrência directa ao jornal Expresso.....
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  #9  
Antigo 09-11-2008, 18:38
Avatar de pranxas
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Padrão Re: FERDINAND PORSCHE: o soldadinho de chumbo.

Li ontem à noite e está assombroso.
Tens o diario do F. Porsche zico?
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  #10  
Antigo 09-11-2008, 19:03
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José Aguiar José Aguiar está offline
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Data de Entrada: Sep 2008
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Padrão Re: FERDINAND PORSCHE: o soldadinho de chumbo.

Zico, vê lá se consegues identificar estes.....
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Uma Relíquia de Ferdinand Porsche zico MUSEU PORSCHE 16 02-08-2009 20:31


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