Eu já contei esta história pessoalmente em privado a alguns de vocês, mas nem toda a gente a conhece, por isso achei que seria interessante contá-la publicamente aqui no Café. Até porque esta é uma típica história de Café. Para além dela vou contar outras (fiquem atentos a este tópico porque vão aparecer várias histórias de porta-chaves) e vou ficar à espera das vossas e à espera das fotografias dos vossos porta-chaves. É um desafio que vos lanço: colocarem uma fotografia do porta-chaves do vosso carro!
Passando à história engraçada que se passou comigo:
Um certo dia tropecei num anúncio de um sujeito de Las Vegas que dizia mais ou menos isto: "estava eu a arrumar umas gavetas em casa e encontrei as chaves do meu 911 Targa Amarelo de 1970 que vendi há 15 anos atrás. Fiquei estarrecido porque eu sempre pensei que as tinha entregue ao vendedor. Nem sei o que fazer." A razão da venda do carro naquela altura, contou ele, foi surreal. Para além deste Targa amarelo o indivíduo tinha também um Porsche 356-A. Geralmente era a sua filha que andava com o 911 Targa e ele com o 356-A. Só que, pelos vistos, quer o pai, quer a filha, eram maníacos da velocidade e tiveram tantas multas e acidentes que em 1988 foi-lhes exigido um prémio anual de seguro de 20.000 USD para os dois Porsches. E pagavam este montante ou nenhuma seguradora lhes cobria os veículos. Até que deixaram definitivamente de os segurarem, já que, num azar incrível o sujeito esbarrou o 356-A contra o 911 ficando com a traseira do 356 em cima da frente do 911.
A ideia do homem de Las Vegas, atrapalhado por ter encontrado as chaves do 911, muitos anos depois, foi leiloa-las.
E assim fez, só que ninguém apareceu.
Ou melhor: só apareci eu porque me apaixonei perdidamente pelo porta-chaves onde ele tinha as ditas cujas. Mais concretamente, apaixonei-me pelo escudo da Porsche do porta-chaves. E comprei-lhas por uma bagatela. Sucedeu que,
Ele ficou apreensivo e curioso e escreveu-me a falar das chaves. Eu achei aquela reacção algo estranha, já que ele parecia estar com alguma relutância em deixá-las partir e estava com muita curiosidade em saber para onde as mesmas iríam.
Eu disse-lhe que ele podia ficar descansado que as suas chaves iriam ficar em boas mãos e que, como eu era coleccionador de outras coisas relacionadas com a Porsche, elas ficariam muito bem guardadas ao lado de muitas outras coisas antigas. Pensava eu que o assunto ia ficar por ali, mas o indivíduo volta novamente a escrever-me e a perguntar se eu tinha algum website com as coisas que coleccionava. Eu disse-lhe que não mas mandei-lhe um link de um álbum privado onde eu tenho algumas fotos das coisas que colecciono.
Quando eu pensava que o assunto estava definitivamente arrumado, recebo ainda mais um email do sujeito e que me diz algo assim:
“Ao olhar para as fotografias da sua magnífica colecção senti-me profundamente embaraçado pelas minhas chaves e pelo velho porta-chaves. Quase que fiquei tentado a pedir-lhe que os deitasse fora, para evitar contaminá-la. Porém, lembrei-me que havia uma forma de me redimir. Lembrei-me que havia uma forma de, por certa forma, engrandecer o meu objecto. Experimente fazer google ao meu nome. Mas, para lhe poupar trabalho, eu vou-lhe dizer quem sou: sou o inventor do telemóvel (da moderna comunicação celular)".
Por isso, para além das chaves enviou-me uma cópia da Patente da sua Invenção com uma dedicatória: “Para o zico, que agora é o dono das chaves do meu 911 Targa amarelo”. E pediu-me que pusesse a Patente à beira das chaves e no meio de tantas outras coisas de outro Inventor: o tal Ferdinando.
Fiz mais um amigo, com quem de vez em quando troco correspondência. Tem um Rancho no Texas e uma colecção de tractores. E vai agora começar a coleccionar os Porsche Diesel.
Meia dúzia de dólares que se transformaram, pelo menos para mim, numa história sem preço.