PORSCHE DIESEL VS PORSCHE: O COMPARATIVO IMPOSSÍVEL?
Este tópico não pretende ser sobre a História da
Porsche Diesel ou sobre os Tractores Porsche. Sim, porque
também houve tractores Porsche a gasolina...
Essa tarefa eu vou deixar em aberto para quem quiser contribuir. Sei que o
Ace estará em condições de nos dar uma lição sobre eles, nomeadamente sobre a evolução técnica e histórica da evolução dos diferentes modelos. Até porque o
MRS já deu o mote num tópico sobre eles e ainda ninguém se atreveu a meter as mãos na massa.
Por outro lado, este post não pode ser exaustivo sobre a vida dos tractores, até porque o motivo que me trás aqui é o de uma
VIAGEM PICTORIAL e, se possível, o de um
ENSAIO COMPARATIVO.
Não queria no entanto de deixar de dizer o que eu penso dos
Tractores da Porsche.
Desdo logo: venero-os!
Um dia, comentei no meio de um grupo de Agricultores que um dos meus sonhos era ter um
tractor Porsche. Eles olharam para mim com cara de parvos e, passado o choque da minha afirmação, desataram-se todos a rir. E devem ter achado mesmo muita graça ao que eu disse, já que a galhofa durou um bom par de minutos. Chegaram ao ponto de me chamarem maluquinho da cabeça. Depois lá disseram que aquilo que eu disse não fazia qualquer sentido, porque a coisa era exactamanete ao contrário. Eles, Agricultores, é que poderiam sonhar em ter um Porsche. Nunca, quem tem um Porsche, poderia sonhar em ter um tractor...
Claro que, mais do que o veículo em sí, o que me atrai nos tractores da Porsche é a sua origem: que, para não variar, partiu de uma ideia PARVA de
Hitler.
E a ideia era precisamente a de constituir um desafio a
Ferdinad Porsche no sentido de construir um “
tractor do povo” o
Volksschlepper.
Eu sempre tive alguma dificuldade em compreender esta obssessão estúpida do
Fuher em massificar as prendas. Já não chegava o disparate do carro do povo, que obrigou a Alemanha a pecar mortalmente, como ainda havia de ser criada uma ferramenta popular para a agricultura. Era uma espécie de
Reforma Agrária Motorizada. Claro que na altura em que lhe foi feita esta proposta, Ferdinand Porsche desatou-se a rir, não por nervosismo, mas sim por desprezo. É que, aquilo que lhe era pedido, era para ele, facílimo de cumprir (na sua cabeça). E porquê? Fácil de responder....era um veículo destinado a andar a menos de 20 km/h....
De resto, a experiência de
Ferdinand Porsche no mundo dos tractores, já vinha muito de trás, a primeira delas corria o ano de 1914 com um espécime militar construído na
Austro Daimler; ou em 1917 com o
Dragfordon, uma coisa monstra que dava a ideia que era conduzida em cima de gigantescas rodas.
Os primeiros
Porsche Diesel tinham motores de configurações distintas que iam de 1 a 4 cilíndros e foram construídos em cooperação com a Escola Agrícola de
Hohenheim. Diz quem sabe que os de 1 cilíndro são os mais difíceis de “caçar”.
Hitler, excitadíssimo com o
Volksschlepper, foi outra vez buscar
Robert Ley para proceder à tentativa de massificação de objectos e este, por comodismo, acabou por construir a fábrica na sua cidade natal
Waldbröl.
Ferdinand Porsche e o seu genro
Anton Piech, vão trabalhar nessa fábrica até dois anos antes de ela fechar em 1944.
Por um lado, este período da história da Porsche é bastante conturbado, mas por outro, vai ser nesta época que
Ferdinand Porsche vai andar feito tolinho numa permanente e exarcebada produção inventiva e experimental. Eu já tentei fazer um levantamento exaustivo daquilo que lhe saiu da cabeça neste período, mas ia era dando cabo da minha. É que o homem, por causa da Guerra, ora andava a correr para as solicitações militares, ora andava a correr para a Volkswagen, ora andava a correr para os tractores. E ainda gastava tempo a pensar em recordes de velocidade como os da
Auto-Union. Era engenheiro para cá, ideias para lá, e já agora que arranjaste este sistema para o tractor, deixa lá ver se o consigo aproveitar para o tanque e o canhão. E depois veio a crise dos combustíveis. De tudo a nada: voou-se a gasolina, evaporou-se o Diesel e por fim o gás. Por causa da crise do Petróleo que se despoletou por volta de 1941,
Ferdinand Porsche foi “obrigado” pelo Terceiro Reich, a concentra-se no
Type 158 (
Holzvergaser) que era basicamente um gerador alimentado a carvão ou madeira. E para não variar, o incansável Professor, ainda teve que o aplicar nas diferentes vertentes, desde a Agrícola à Militar.
Para ser franco, eu custa-me um bocado dizer isto, mas, na minha opinião, toda esta roda viva inventiva e altamente stressante, vai fazer com que o Professor fique notoriamente perturbado. Confesso que posso estar enganado, até porque nunca vi ninguém afirmar isto, mas parece-me que nada foi dito, talvez para não ferir susceptibilidades. É que, esta constante correria para um lado e para o outro, vão fazer com que Ferdinand Porsche, a certa altura comece a misturar os dois mundos num processo de confusão algo nonsense. Exemplo disso são os
Type 293 e o
Type 175 (
Ostradschlepper) que são basicamente tractores militares, de função muito duvidosa.
Á PROCURA DO NOSSO TIO AVÔ
Faz hoje um mês recebi com apreensão uma carta mal impressa da Alemanha. Ao que parece, um nosso Tio Avô, já velhinho, após uma interminável reforma, tinha vindo morrer para Portugal. A situação era angustiante. Embora já tivesse convivido com muitos primos, um Tio avô, velhinho, e a morrer...impelia-me a prestar-lhe auxílio. Obrigava-me a procurá-lo.
Eu sabia de antemão que o velhote, ao contrário dos nossos carros, não era um atleta. Fazia parte daquele ramo da família que, embora muito trabalhador, sempre revelou alguma dificuldade de locumoção. Não se distinguiram no desporto, mas distinguiram-se na politica e depois...no campo.
A morada que me deram não vinha no mapa. Pedi emprestado um GPS e...nada. Em desespero, escrevi para
Zuffenhausen a pedir urgência na imformação sobre o paradeiro do idoso. Ao fim de uma semana, recebo esta carta vinda da Alemanha:
Finalmente! Meto-me à estrada e ao fim de muita luta, muito kilómetro, lá consegui encontrar o referido “
Cantinho do Tractor”:
Á chegada dou de caras com um tractor azul. A cor agrada-me, claro, mas o que eu vinha mesmo era à procura dos “vermelhinhos”:
Sotaque alemão nem ouvi-lo. Começo a iniciar uma procura silenciosa. Vou entrando a medo, a tentar perceber onde é o que o nosso Tio Avô estará. De repente, aparecem-me uns outsiders estrangeiros:
Um FORD:
Um McCORMICK muito avançado para a época, já que funcionava como uma espécie de híbrido:
Não era nada disto que eu queria.....do velho alemão nem sombra. Alto o que é aquilo ali ao fundo...um tractor vermelho?? Haaa...não é...é um MASSEY FERGUSON:
Os palermas aparecem-me todos pela frente:
um FENDT:
Um DAVID BROWN:
Um JOHN DEER:
Até o raio dos Italianos tinham que aparecer primeiro. Irra! Reparem bem neste pormenor fantástico que define muito bem a característica dos veículos italianos: até nos tractores eles dão “show off”. Até no meio das couves gostam de ser presunçosos:
LAMBORGHINI 105 TURBO FORMULA POWERSPEED.
Já estava prestes a desistir quando ouço barulho de pessoas numa outra sala. Enfio-me por um corredor escuro muito comprido que vai desembocar numa câmara onde se encontram vários indivíduos de bata (funcionários do lâr, presumo eu) à volta de qualquer coisa vermelha. Nem precisei de olhar duas vezes para perceber o que era: o nosso velhinho “
PORSCHE DIESEL”:
A primeira vez que o vi gerou na minha memória uma imagem da qual não me vou esquecer:
O que mais me impressionou foi o porte elegante do tractor, quase franzino quando visto de frente, com os pneus muito estreitos. A primeira visão do
PORSCHE DIESEL, assim visto da proa, deixou-me obcecado a pensar no que é que me parecia. O choque foi tão grande que eu ia jurar que tinha visto aquela imagem noutro lado.
Ferdinand Porsche inspirou-se em alguma coisa para lhe dar aquele aspecto. Mas eu não estava a conseguir identificar com o quê. Mais tarde, quando me vim embora, pensei no assunto para com os meus botões e a certa altura, julguei que a inspiração do Design viria da figura de um extraterrestre com uma cabeça grande e dois olhos em forma de gotas. Depois, achei uma estupidez, até porque naquela altura não se falava em nada disto, nem existiam quaisquer referências a essas criaturas. Foi então que se me fez luz. Aquilo que me estava a fazer comichão no cérebro; aquilo que me fez de repente lembrar o tractor a primeira vez que o vi, era uma
MOSCA:
BZZZZ!!! BZZZZZ! BZZZZZ!!!! zZZZZZzzzzz
Algumas fotos do Agricultor germânico radicado em Portugal:
Estranhei descobrir esta data no Tractor: “1953”, quando ele é de data bem posterior:
O COMPARATIVO COM O GT3: O sobrinho-neto desafia o Tio-Avô.
Feitas as devidas apresentações a intenção foi desde logo procurar ensaiar as duas versões num teste comparativo. Por um lado, para ser pioneiro neste género de ensaios. Por outro, para tentar descobrir se tal seria possivel, já que na minha mente tal apresenta-se totalmente plausível, embora reconheça que á primeira vista possa parecer estúpido. Porém, um “Porsche” é um “Porsche”. E alguma coisa deverá existir ao nivel do DNA dos dois veículos, que os unam. O mais difícil, provavelmente, será descobri-lo. Saltei para o volante e a sensação foi indescritível. Senti-me como se estivesse a pegar no Primeiro Porsche. E foi então que percebi porquê:
O VOLANTE!
E não é que o volante é igual ao que foram colocados no primeiro Porsche (
K45-286) e nos primeiros carros de Gmund aquando dos primeiros testes no Katschbergpass. Lembram-se desta parte do Blog?
A primeira abordagem do nosso comparativo, tem necessariamente que começar pela parte Conceptual dos veículos. Quando
Hitler desafiou
Ferdinand Porsche para a megalómana empreitada da construção de tractores, segundo reza a História, ele abriu um livrinho de anotações e escreveu, ao mesmo tempo que o escutava:
1– BAIXO PREÇO DE VENDA AO PÚBLICO.
2 – BAIXO CUSTO DE MANUTENÇÃO.
3 – APLICAÇÃO A TODAS AS ÁREAS DA AGRICULTURA.
4 – RIJO, POTENTE, RESISTENTE.
Ora, isto é verídico, e eu vou exactamente aproveitar a ideia original do
Ferdinand Porsche, para tentar aplicá-la ao
911. E o resultado é deveras interessante:
As características técnicas são radicalmente diferentes entre os dois veículos, e é difícil de encontrar um ponto comum. A estrutura dos veículos também é antagónica. No
PORSCHE DIESEL tudo parece pesado e feito da mesma matéria: ferro. No
GT3, ao contrário, encontram-se logo uma multiplicidade de materiais, todos eles muito mais leves: As bielas estão forjadas em titânio, as cabeças dos cilindros são feitas de liga leve e os dois coletores de admissão são feitos de liga de alumínio. Já para não falar do carbono.
Alguns contrastes nas jantes, mas algumas semelhanças nos bancos: em ambos o condutor vai com a sensação de ir “encaixado” e ambos são bastante duros (embora cómodos):
O MOTOR.
E aqui chegamos talvez ao ponto chave, ao busílis da questão. É que de tudo o que se vê e sente no carro, em nada se compara com o momento em que se dá à chave no
PORSCHE DIESEL. Sente-se um arrepio imenso na espinha, tal é a familiaridade do som. É uma coisa fantástica...é um Porsche indiscutivelmente. Por momentos o som das válvulas a bater, é praticamente idêntico ao do
GT3. Impressionante. Aquele
“taca taca taca taca taca” metálico no início é o mesmo, só que no
GT3 cala-se e no
PORSCHE DIESEL continua.
Para verem que não é imaginação aqui vão os filmes dos dois veículos a fazerem start up:
Pedi a opinião do perito nos
Porsche Diesel: o Agricultor que percebe a fundo de mecânica automóvel. Pediu-me para ver o motor do
GT3. Acedi e quando abri a tampa, ele exclamou espontaneamente:
“É um Porsche!”
Percebi imediatamente o que ele queria dizer com aquilo. Não é que ele tivesse ficado surpreendido porque estivesse à espera de encontar um motor de um
Renault Twingo. Percebi imediatamente o homem, porque quando eu ouvi o tractor dele pela primeira vez, exclamei exactamente a mesma frase:
“É um Porsche!”. É que, sem conhecermos os veículos do outro, ambos o indentificamos com o nosso. Depois da exclamação, o tractorista, ainda olhando para o motor do
GT3 afirma:
“a Porsche é isto: não há fantasia neste motor. É pura mecânica. É como no tractor. Olha-se e veêm-se as peças. Simples e duras”.
E o incrível é exactamente isso mesmo. Independentemente da diferente origem dos veículos, da diferente natureza que os caracteriza, ambos são indiscutivelmente “PORSCHE”, pela força da mecânica e do som característico da engenharia da Porsche. Estava encontrado o
GENE que escondia o código genético desta familia.
OUTROS PRIMOS APARECEM À FESTA:
Pois o encontro imediato do 3.º grau, por incrível que pareça não se ficou por aqui. Eu, para ser franco estava mais do que maravilhado com o SUPER EXPORT, mas mais surpresas estariam por acontecer. É que naquele Lar de terceira idade, ainda existiam, não um, não dois....mas....mais 3
PORSCHE DIESEL !!!
UM JÚNIOR:
OUTRO FEITO NA ALLGAIER:
E UM ÚLTIMO PORSCHE DIESEL:
CONCLUSÃO:
Á primeira vista parece impossivel podermos cruzar estas duas realidades. Mas não é. Claro que o caminho a enveredar nunca poderia ser o da performance. Não era por aí que chegariamos a uma qualquer afinidade entre os dois Porsche. A afinidade começa logo muito mais cedo, no conceito. Quando verificamos que ambos são, rijos, potentes e resistentes. Não é essa uma das grandes características de um verdadeiro Porsche? Divergem em muitos outros pontos, mas neste ESSENCIAL têm tudo em comum. E depois vem a locomoção. O momento em que ambos os veículos começam a trabalhar e a galgar terreno. Um muito depressa e o outro muito devagar. Mas ambos com a mesma raça.
CONFLITO DE GERAÇÕES? Nunca. Pura simbiose! E eu juro que já vi os dois a ajudarem-se mutuamente noutros tempos:
É engraçado, mas quando me vim embora, senti que aprendi muito mais sobre o meu carro a compará-lo com um tractor, do que quando o fiz, milhares de vezes, com muitos outros modelos desportivos.