Ocorreu-me, enquanto debatíamos os razoáveis ou vergonhosos resultados da Porsche nas passadas 24 horas de Le Mans, que uma análise estatística, mesmo que mais ou menos rudimentar e aproximativa, poderia fornecer uma visão diferente do historial de participações da marca na referida prova e até mesmo ajudar à valoração relativa dos desfechos contemporâneos. Assim, decidi tentar esta singela abordagem, acompanhando com uns graficozitos para ajudar a digerir os números.
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Correram em Le Mans entre 1951 e 2014, se não me enganei na contagem, um total de 821 equipas em automóveis Porsche. Nestas tomei a liberdade de incluir todos os produzidos ou não pela fábrica, segundo especificações próximas, inspiradas ou baseadas nos modelos Porsche oficiais, mas também os protótipos, que estimo em 54, construídos por terceiros/outras marcas, desde que devidamente motorizados pela Porsche.
Neste particular merece particular destaque Yves Courage que, entre 1984 e 1999, contribuiu com nada menos do que 34 participações dos seus Cougar, cobrando mesmo uma vitória de classe e um segundo lugar da geral, em uma quinzena de modelos/variantes, com motorizações Porsche.
Para além destes também passaram por le Mans os Grid S2, March 84 e 85 G, Tiga GC 287, Argo JM 19, os mais familiares Kremer CK 8 Spyder, Spyder WSC e K 8/2 e, eventualmente mais polémicos, os TWR WSC-95 projectados e construídos pela Tom Walkinshaw Racing e inscritos por Reinhold Joest.
Excluídos ficam, obviamente, todos os que não se enquadram neste critério como por exemplo os Matra que corriam com caixas de velocidades Porsche mas um motor próprio.
Oficiais e Privados
Ao longo destas últimas 64 edições das 24 horas, a Porsche colaborou com 135 inscrições oficiais (incluídos os Teams Salzburg, Martini e Gulf/Wyer da década de 70), sendo responsável por 16,44% do total das participações, contra os 83,56 da miríade de equipas privadas e particulares.
O número médio de Porsches que se apresentaram à partida da prova,chega praticamente às 13 unidades (mais propriamente 12,83) por edição, numa presença continua que teve o seu mínimo na primeira participação, com apenas 1 Porsche, ao máximo de 33 em 1971, ano em que a marca preencheu mais de 2/3 da grelha onde apenas figuraram 16 equipas de outras marcas.
Até meados da década de 60, é de notar uma nítida prevalência das equipas inscritas pela fábrica. Porém, com o aparecimento de GT’s competitivos e acessíveis (904 e 911) e mesmo de Sport-protótipos produzidos em pequenas séries (906, 910, 907 e 908 ), os privados passaram a representar uma larga maioria dos participantes. Tal viria a estender-se até ao final doa anos 80, com o fenómeno 956/962.
Nos anos 90 ainda houve algumas participações oficiais esporádicas mas, a partir daí, por mérito da gestão Wendelin Wiedeking, a representação da marca fica entregue em exclusivo a equipas privadas e apenas nas categorias secundárias.
Distribuição dos Porsches à partida entre a(s) equipa(s) de fábrica e privadas:
Em termos de sucessos relativos, no universo dos Porsches participantes nas 24 horas de le Mans, 49,5% viram-se classificados à chegada, sendo que as percentagens são ligeiramente melhores para as equipas de fábrica do que para os privados com, respectivamente, 54,8% e 48,5% de carros a concluir a prova.
O gráfico seguinte mostra, ano a ano, o número de Porsches à partida e a percentagem daqueles que chegaram ao fim.
Particularmente digno de registo que, em 64 edições, apenas uma vez, em 1959, não houve um único Porsche a cruzar a linha de meta. Por outro lado, por duas vezes, em 1951 e 2013, todos os Porsches cumpriram integralmente a prova e terminaram classificados
O próximo, não tendo interesse de maior, complementa o anterior, permitindo visualizar o número de abandonos, por edição, para os carros oficiais e privados
Porém, para os entusiastas mais radicais o que interessa mesmo são as vitórias. E são muitas. Tantas que se tornam difíceis de elencar sendo mesmo, eventualmente, pouco consensuais. Dados pouco fiáveis ou contraditórios e as alterações de conceitos em função de critérios pouco claros resultam inevitavelmente numa relativa falta de rigor.
Por exemplo, se são universalmente aceites, inclusivamente pelos organizadores, 16 vitórias para a Porsche, incluindo nestas as dos TWR de 1996/97. Mas a mesma benevolência já não é aplicada a outros construtores como a Ford de cuja contabilidade foram excluídos os sucessos de 1975 (Mirage/Ford) ou 1980 (Rondeau/Ford).
Nas vitórias de classe tudo é ainda mais confuso sobretudo devido às sucessivas alterações regulamentares muito características do ACO e nem sempre, ou melhor quase nunca, em sintonia com as da FIA/FISA.
Assim o gráfico seguinte mostra os números do “best case scenario” em que contabilizo 102 vitórias na classe, com 40 para a equipa oficial e 62 para os privados. Claro que sempre que existiram classificações separadas para Grupos e Classes, apenas uma foi retida, por razões óbvias.
Os índices, que noutros tempos tiveram uma muito maior relevância do que na actualidade, compreendem desde a Coupe Bienale à Michelin Green Challenge passando pelos Index de Performance, Energetique, etc.
Para já fico por aqui...