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Antigo 07-03-2010, 22:21
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O célebre "42" do VACA BRAVA

(Um excerto publicado no Autosport)

Na década de 70 para além do Futebol começou a surgir uma nova razão para "torcer" e essa era, as corridas de automóvel. Um Paulista de nome Emerson Fitipaldi, brilhantemente coadjuvado pelo saudoso José Carlos Pace, destacava-se nas pistas Europeias e atingia o degrau máximo do automobilismo internacional ao conquistar em Setembro de 72, em Monza, o seu primeiro campeonato Mundial de F1, ao volante do belíssimo JPS-Lotus 72. A televisão mostrou-o e os Brasileiros adoraram. De um dia para o outro Emerson tornou-se numa celebridade, pois é assim que no Brasil as coisas acontecem.
Foi neste ambiente de optimismo e realizações e onde o céu era o limite que no dia 1 de Julho de 1973 Ayrton Senna da Silva, nascido em São Paulo a 21 de Março de 1960, iniciou a sua carreira oficial de competição no Karting, vencendo a corrida.

Se havia uma característica que podia descrever bem Ayrton era a obstinação pois foi desde sempre que perseguiu o seu sonho de se tornar piloto de competição. Com 4 anos recebeu do seu Pai o seu primeiro Kart, por ele feito, e que era impulsionado por um potente motor de 1 cavalo.
O garoto tinha jeito e a família apoiou-o. O Pai de Ayrton, Milton Guirando Theodoro da Silva, o Miltão, era um "self made man" vindo do nada que em poucos anos tinha feito uma razoável fortuna com um negócio de máquinas agrícolas que representou nas novas fronteiras agrícolas no interior dos estados de Goiás e do Mato Grosso. Rapidamente diversificou os seus negócios para o gado e posteriormente para o sector das auto-peças em São Paulo, que alimentava a locomotiva industrial Brasileira e que era o sector automóvel. A Mãe, D. Neyde Joanna Senna da Silva, era uma Senhora cujas preocupações essenciais eram cuidar da casa e da família que além deles era composta pela filha mais velha Vivianne e pelo "caçula" Leonardo.

Sem duvida que desde o inicio que ele demonstrou que era bom, muito bom mesmo mas é bom dizer-se também que já naquela altura Ayrton era o mais profissional e determinado da "turma".
Desde cedo que Ayrton guiava e bem. Aos 4 anos desfilava velozmente no seu kart pelas ruas vizinhas da sua casa perante a admiração da vizinhança. Aos 7 já guiava sozinho os carros nas fazendas do seu Pai e aos 7 anos também foi preso pela polícia no litoral de S. Paulo onde tinham uma casa de verão por estar-se a passear no carro pela cidade, obviamente ás escondidas dos Pais.
O seu Pai que era um ferrenho partidário do "se é para fazer que se faça bem" e sendo assim proporcionou ao filho desde o inicio uma estrutura de apoio excelente para a época pois a equipa tinha não só meios financeiros muito razoáveis como também o apoio do melhor preparador de motores e mecânico de karts, Lucio Pascoal Gascon, o "Tché", que foi uma mais valia importantíssima para a carreira de Ayrton nesta categoria. Tché adorava Ayrton e praticamente perfilhou-o. O ser "filho" do Tché era uma vantagem que foi bem explorada pelo imberbe mas muito competente candidato a piloto.

Alguns anos mais tarde quando estava na Itália a preparar-se para o campeonato mundial de 79 que se ia realizar no Estoril Ayrton escreveu uma carta ao seu antigo preparador e grande amigo que dizia o seguinte: " és uma pessoa que tem uma responsabilidade incrível no que diz respeito á minha vida, pois quem me pôs neste mundo do Kart foi o meu Pai, mas quem me colocou realmente na direcção certa, quem me ensinou quase tudo o que sei, quem me ajudou e esteve ali em todos os momentos, a pessoa que me fez chegar onde estou e que é a maior responsável pelas minhas vitórias é você. E nem imagina o quanto eu estou grato." Esclarecedor.

Ayrton implodiu o " karting" quando apareceu pois rapidamente passou a ser o favorito para todas as corridas. Ganhou o que havia a ganhar nas categorias juniores e rapidamente começou a batalhar com os mais velhos nas categorias superiores. Não foi bem aceite ...... porque era bom demais. O karting nessa altura era como uma pequena família e Ayrton não fazia parte dela.

Era simplesmente o "42".

Ele também não facilitava no seu relacionamento com os restantes pois pura e simplesmente não suportava andar atrás de ninguém e não era meigo nos seus métodos. Tché descreveu-o assim: "Para ele não existia concorrentes a única coisa importante era ser primeiro. Entrava numa corrida sempre para ganhar. Era a vitória ou nada. Era um individualista sempre em busca da perfeição. Estava sempre atento a todos os detalhes. Nunca permitia por exemplo que uma roda estivesse amolgada ou com um simples toque, tinha de estar sempre tudo impecável." Ainda com 13 anos o "42" ganhou o seu primeiro Campeonato Paulista.

Maurizío Sandro Sala que é mais velho que Senna mas que começou a sua carreira pouco antes reconhece o génio de Ayrton nos karts quando disse: "Ele era mesmo mais rápido. Eu é que não o deixava passar."

Ayrton teve muitos rivais no karting. No Brasil Mario Sérgio Carvalho e Walter Travaglini foram os seus grandes oponentes. Algumas vezes ganharam e outras perderam mas o que é que dizem eles do "42".

MSC: 1-" A nossa rivalidade era tão grande que invariavelmente, apesar de termos quase sempre os dois melhores tempos dos treinos, éramos mandados, pelo director de corrida, para o fim do grid porque nunca conseguíamos largar emparelhados." 2- " O Terry Fullerton (campeão do mundo em 73 e considerado por Ayrton o melhor piloto contra quem correu) era muito bom e rápido, mas o Ayrton comia-o ao pequeno-almoço. Com certeza."

WT: 1- "Ele realmente era uma pessoa anormal, ele tinha aquele algo mais..." 2- "Ele tinha arrancado mais um segundo do kart. Entendeu? Ele era assim. 3- "Ele acabava com a gente no kart graças a uma sensibilidade nata e ao facto de ser canhoto, o que lhe dava uma mais força e sensibilidade no braço e na mão esquerda. Isso permitia-lhe ir á conversa com o motor a corrida inteira. Só tirava a mão direita do carburador para descansar a esquerda. Ele tinha um controle que ninguém tinha."

Outro dos grandes rivais de Senna nos karts foi Chico Serra que era um excelente piloto mas que normalmente não competia com Ayrton por ser um pouco mais velho.

Chico disse que a rivalidade entre ambos era sui-generis pois praticamente não se conheciam e raramente competiram mas essencialmente ela existia porque o mais novo queria o lugar do mais velho e o mais velho ainda era muito novo para aceitar isso. Fora isso deu-lhe a alcunha da "Vaca Brava" essencialmente pela dureza de Senna em pista com os seus adversários.

Senna era melhor e provou-o na corrida de despedida de Serra antes deste se ir embora competir na Europa sob o patrocínio de Emerson Fittipaldi. Senna obviamente não foi convidado para a corrida pois a ideia era que o Chico ganhasse e com o "42/Vaca Brava" lá isso não era garantido mas Senna apareceu e á ultima da hora e só com umas molas a prender os jeans participou.

Ayrton largou de ultimo mas ao fim de algumas voltas já estava colado a Serra que seguia na liderança. Por duas voltas seguiu-o e Serra que não estava para brincadeiras, e ainda por cima do "Vaca Brava", ia fazendo algumas manobras mais musculadas onde se incluíam alguns break-tests menos próprios. Por fim Senna atirou-se e passou-o abrindo a partir daí quase meio segundo por volta. Serra não desiste e tenta acompanha-lo mas ......... não dava e quase que se despistou algumas vezes. Antes que alguma tragédia acontecesse acabaram com a corrida.

Serra sentiu-se e foi humilhado nesse dia mas calou-se. Quem não se calou foi a Mãe dele, D. Baby, que para quem a quis ouvir desfilou um reportório de palavrões ofensivos ao pobre do "Vaca Brava" capazes até de fazer corar um "cafetão" do Bafo de Onça e que definitivamente não caiam bem a uma Dama de uma tradicional família Paulistana.

Chico em tom de queixume disse apenas a Tché, de quem tinha sido também pupilo, "Pô meu, eu sei que você me avisou de que ele era bom mas podia ter avisado que ele era assim tão bom."

Ayrton conquistou no Brasil os seguintes títulos:

1974- Categoria Júnior - Campeão Paulista
1975- Categoria Júnior - Vice-Campeão Brasileiro; Vencedor do Torneio Nacional Itacolomy.
Categoria 100cc: Campeão Paulista.
1976- 2ª Categoria 100cc: 3º no Campeonato Brasileiro; Vencedor das "Três Horas" e Campeão Paulista.
1977- Vice-Campeão Brasileiro; Vice-Campeão Paulista e vencedor das "Três Horas".
1978- Campeão Brasileiro; Vice-Campeão Paulista e vencedor das "Três Horas".
1980- Campeão Brasileiro.
Imagens Anexadas
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...idiotice é esperar resultados diferentes para as mesmas acções...

Última edição por Drake : 07-03-2010 às 22:32
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